sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Tempos Modernos - Charles Chaplin

*Vanessa A. de oliveira

No período anterior a revolução industrial, o processo de produção era manual e artesanal sem o uso de máquinas. Os camponeses serviam a um senhor que era dono da terra (feudos), e a  economia era de subsistência.

Com o expansão do comércio, o crescimento da população urbana  e a necessidade de abastecimento da mesma com produtos agrícolas, surgem novas oportunidades de comércio, o camponês agora passa a vender os produtos para outras fontes e por um valor maior, dessa forma pode se libertar do senhor feudal,  deixa o campo e vai viver na cidade, onde o sistema é o proletariado. Lá a figura do camponês é substituída pela do operário.

O filme “Tempos modernos” (Charles Chaplin) representa bem essa realidade, do momento em que a Revolução Industrial transforma a organização do trabalho e o comportamento da sociedade. Uma das primeiras cenas do filme de Chaplin é a do rebanho de gados, que pode ser comparado com a população das grandes cidades, com caos que toma conta de uma sociedade que não se importa em viver aglomerados como gado no rebanho e que são comandados por uma espécie de “pastor”, característica da massa.

Este “pastor” (chefe)  é quem determina sua forma de trabalho (do rebanho) e em troca, esse trabalhador recebe uma remuneração. Outra característica da modernidade é a relação dos homens com o tempo, o relógio do início do filme simboliza bem isso, que em uma economia capitalista se torna lei onde ‘tempo é dinheiro’...  
Chaplin e os Tempos modernos:
nas engrenagens da loucura
Com a criação das linhas de montagens, o trabalho passa a ser dividido, onde cada funcionário da indústria teria uma função. Esse fato é observado de forma cômica por Chaplin na passagem do filme em que de tanto apertar parafusos a personagem sai apertando tudo que ele vê pela frente. Essa divisão não era favorável para o indivíduo, pois ele acabava aprendendo a fazer uma coisa só e quando tentava fazer outras coisas acabava não se dando bem, pois suas habilidades eram limitadas à apenas uma atividade.    

Com o crescimento do capitalismo, economia de mercado, onde a palavra de ordem é o ‘consumir’, os donos das fábricas impunham rotinas pesadas, rítmos cada vez mais acelerados no processo de produção, em condições de trabalhos desumanas. Como resultado dessa repetição mecânica, o psíquico desse trabalhador fica extremamente afetado, levando o indivíduo à loucura. Uma passagem que representa isso é quando o personagem (Carlitos) sai, completamente fora de si nas ruas apertando botões de vestidos das madames, reflexo do trabalho repetitivo de uma jornada de longas horas de trabalho.
Linha de produção: estandartização e massificação na modernidade
Outra relação muito interessante presente no filme é o da corrosão do caráter do homem pela sociedade, quando, por exemplo, a namorada do personagem rouba para alimentar suas irmãs, ou quando o próprio personagem vai parar na prisão com marginais, bandidos perigosos, por que era considerado um perigo para sociedade, quando na verdade estava transtornado pelo excesso de trabalho, ou simplesmente tentando sobreviver, e na situação precária em que viviam não havia outro jeito. Estas são características típicas do iluminismo, onde o homem era o centro das atenções, segundo essa filosofia, “O homem é naturalmente bom, a sociedade é o que transforma com o tempo.”

O conceito de sociedade de massa também é abordado em vários momentos do filme.Como o estilo de vida da sociedade moderna é determinado por padrões impostos pela indústria de bens de consumo, como a massa tende a seguir os mesmos padrões, o que faz com que indivíduos pertencentes a mesma classe se comportem de maneira semelhante, onde as classes tendem a acreditar que a vida perfeita é aquela vendida pela mídia, e imposta pela sociedade. E quando os personagens centrais do filme ficam presos na loja de utilidades e a maior alegria dos dois é estarem em contato com roupas finas, boa comida, lençóis finos e regalias. Assim como quando o personagem (Carlitos) propõe que os dois se casem, e em seus sonhos, os dois vivem em uma casa luxuosa, cheia de fartura e beleza, mas essa não é a realidade condizente com o grupo a que aqueles indivíduos pertencem, e no final das contas, uma taboca velha de madeira caindo aos pedaços se torna um paraíso para os dois.

Por fim, Tempos Modernos recria, com uma linguagem diferenciada, a problemática da sociedade moderna, e os efeitos negativos que essas ‘modernices’ trouxeram com elas bem como a mudança do posicionamento do indivíduo perante a sociedade, que passa a querer entender e fazer parte efetivamente do ‘sistema’.

* Aluna do curso de Publicidade e Propaganda - ênfase em Marketing - da Universidade de Cuiabá (UNIC). Texto Produzido para a disciplinas Teorias da Comunicação I, ministrada pelo professor Rafael Marques

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Muito além do Jardim Botânico - Carlos Eduardo Lins Da Silva

Uma brilhante análise de como um dos programas da TV de maior audiência do país é visto em duas comunidades de trabalhadores, uma em São Paulo, outra no Nordeste. Uma análise, também, da indústria cultural e do telejornalismo em nosso país.
  
Baixe aqui! -----> DOWNLOAD

sábado, 2 de outubro de 2010

Algumas não-palavras sobre 1984 - o ano que não acabou. PARTE 1

Anos depois estou relendo o livro 1984, de George Orwell, motivado pelas aulas de teorias da comunicação que ministro na UNIC.
Quem foi o autor do livro 1984?
GEORGE ORWELLLLLLLL!!!
GEORGE ORWELLLLLLL!!!
GEORGE ORWELLLLLLL!!!
DAQUELE JEITO!!!
É interessante como a compreensão da narrativa de um texto muda quando se lê pela segunda vez. Ou melhor, quando se lê o mesmo livro anos depois, após acúmulos de outras leituras. A experiência nos dá mais background ou mais links mentais para compreender os significados presentes em determinada obra.

O conceito de NOVILÍNGUA apresentado pelo autor é um dos que mais me chama a atenção. Aniquilação de palavras, redução de significados e por conseqüência, de sentidos, de pensamento, de senso crítico.
1984: mais atual do que nunca
A linguagem é assim: a escrita é ligada ao pensamento. Se não há dispositivos práticos para se representar, a mente atrofia. Associo este argumento à relação entre teoria e prática. Uma não faz sentido se não estiver acompanhada da outra.

Nos nossos tempos, quando os processos comunicacionais em nossa sociedade passaram a ser condicionantes, quando as técnicas imanentes à internet são pré-requisitos para exercer cidadania plena, pensamos estar avançando no que tange a elaboração do conhecimento reflexivo.

Mas e quanto à linguagem - formação de representações – e o pensamento? Estão bem articulados nestes idos contemporâneos?

Se analisarmos sob a luz da obra de Orwell vamos perceber que junto à cultura digital, vem os sedutores atalhos. Com eles, a preguiça e o conformismo. Deixa-se de lado o analógico. A escrita e a leitura. Tudo tem que ser feito de forma rápida e rasteira. Textos curtos, o mais reduzidos quanto for possível.

As pessoas, sobretudo os jovens não tem mais paciência. Culpa deles? Não. Do sistema social que nos formata, em meio a um emaranhado viés ideológico. Um mecanismo complexo de sedução que engendra em nossa mente a idéia de que somos importantes, intelectuais. Uma artimanha da Matrix – Filme que é claramente uma atualização de 1984 para os dias de hoje – que gera uma massa dócil, mais fragilizada que a descrita por José Ortega y Gasset , em seu livro A rebelião das Massas.

Sabedoria a um teclar, consultando o oráculo, tal como faziam alguns povos primitivos: o Deus Google. E no Twitter, 140 caracteres para se expressar publicamente sobre um fato, uma questão. E a tendência é diminuir este número de signos para representar alguma coisa, alguém, ou algum acontecimento.

Pierre Levy, em seu livro Cibercultura, nos ensinou sobre os remédios e venenos da sociedade digital. Lembremo-nos de não mergulhar tão profundamente no infinito oceano informacional da rede, sem antes nos aparamentar. Caso contrário, a pressão deste denso poço informacional tenderá a esmagar o que resta do espírito humano.

Equilibremo-nos. Nem tão virtual, nem tão real. Nem tão teórico, nem tão prático.  Nem tão individual, nem tão coletivo. E por mais que os editores de texto sejam uma ótima ferramenta, não nos esqueçamos do lápis e do papel. Vamos equacionar, relativizar.

E viva o amendoim!