sábado, 2 de outubro de 2010

Algumas não-palavras sobre 1984 - o ano que não acabou. PARTE 1

Anos depois estou relendo o livro 1984, de George Orwell, motivado pelas aulas de teorias da comunicação que ministro na UNIC.
Quem foi o autor do livro 1984?
GEORGE ORWELLLLLLLL!!!
GEORGE ORWELLLLLLL!!!
GEORGE ORWELLLLLLL!!!
DAQUELE JEITO!!!
É interessante como a compreensão da narrativa de um texto muda quando se lê pela segunda vez. Ou melhor, quando se lê o mesmo livro anos depois, após acúmulos de outras leituras. A experiência nos dá mais background ou mais links mentais para compreender os significados presentes em determinada obra.

O conceito de NOVILÍNGUA apresentado pelo autor é um dos que mais me chama a atenção. Aniquilação de palavras, redução de significados e por conseqüência, de sentidos, de pensamento, de senso crítico.
1984: mais atual do que nunca
A linguagem é assim: a escrita é ligada ao pensamento. Se não há dispositivos práticos para se representar, a mente atrofia. Associo este argumento à relação entre teoria e prática. Uma não faz sentido se não estiver acompanhada da outra.

Nos nossos tempos, quando os processos comunicacionais em nossa sociedade passaram a ser condicionantes, quando as técnicas imanentes à internet são pré-requisitos para exercer cidadania plena, pensamos estar avançando no que tange a elaboração do conhecimento reflexivo.

Mas e quanto à linguagem - formação de representações – e o pensamento? Estão bem articulados nestes idos contemporâneos?

Se analisarmos sob a luz da obra de Orwell vamos perceber que junto à cultura digital, vem os sedutores atalhos. Com eles, a preguiça e o conformismo. Deixa-se de lado o analógico. A escrita e a leitura. Tudo tem que ser feito de forma rápida e rasteira. Textos curtos, o mais reduzidos quanto for possível.

As pessoas, sobretudo os jovens não tem mais paciência. Culpa deles? Não. Do sistema social que nos formata, em meio a um emaranhado viés ideológico. Um mecanismo complexo de sedução que engendra em nossa mente a idéia de que somos importantes, intelectuais. Uma artimanha da Matrix – Filme que é claramente uma atualização de 1984 para os dias de hoje – que gera uma massa dócil, mais fragilizada que a descrita por José Ortega y Gasset , em seu livro A rebelião das Massas.

Sabedoria a um teclar, consultando o oráculo, tal como faziam alguns povos primitivos: o Deus Google. E no Twitter, 140 caracteres para se expressar publicamente sobre um fato, uma questão. E a tendência é diminuir este número de signos para representar alguma coisa, alguém, ou algum acontecimento.

Pierre Levy, em seu livro Cibercultura, nos ensinou sobre os remédios e venenos da sociedade digital. Lembremo-nos de não mergulhar tão profundamente no infinito oceano informacional da rede, sem antes nos aparamentar. Caso contrário, a pressão deste denso poço informacional tenderá a esmagar o que resta do espírito humano.

Equilibremo-nos. Nem tão virtual, nem tão real. Nem tão teórico, nem tão prático.  Nem tão individual, nem tão coletivo. E por mais que os editores de texto sejam uma ótima ferramenta, não nos esqueçamos do lápis e do papel. Vamos equacionar, relativizar.

E viva o amendoim!

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