segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A HIPERREALIDADE DE JEAN BAUDRILLARD E O CASO NARDONI - Parte 1

* Denise Soares
Douglas Carvalho
Franciele Cela
Reinaldo Fernandes

INTRODUÇÃO E REFERENCIAL


É perigoso desmascarar as imagens já que elas dissimulam que não há nada por detrás delas” (BAUDRILLARD, 1991, p. 48)


Este artigo foi realizado a partir de aulas de Teorias da Comunicação II. Tem por objetivo analisar o conceito de Simulação e Simulacros, desenvolvido por Jean Baudrillard (1991), no ambiente televisivo brasileiro. Para iniciar, há uma breve explanação sobre o conceito de hiperrealidade conforme a concepção do filósofo para adentrar à analise do “Caso Nardoni” e sua exposição nas emissoras de televisão Globo e Record.

O conceito de hiperreal foi postulado pelo sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard no livro Simulacros e Simulação, lançado no ano de 1981. O pensamento desenvolvido por Baudrillard sobre a sociedade pós-moderna causou polêmica, agregou admiradores e transformou o seu autor em referência entre aqueles que têm a sociedade pós-iluminista como objeto de estudos. Em suas análises, Baudrillard dispensa estudos sistematizados para dirigir o raciocínio em direção de uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses, possibilitando revelar aspectos impensáveis.

Para ele, a realidade pós-moderna é um simples reflexo e simulação daquilo que outrora pôde ser chamado de real (verdade). De tanto, Baudrillard compara o real momento a uma múmia que é puramente um objeto empanado de algo já fora humano. O que se vê é apenas um esboço representativo de um povo, de um tempo e lugar já perdido. Ou seja, o que é atualmente apresentado como verdade é apenas uma simulação de algo que foi real. Como ilustração, o sociólogo estabelece definições diferentes entre o fingir e o simular. Na concepção de Baudrillard, o ato de fingir não altera a realidade. É uma farsa na qual o ator principal está consciente de sua encenação. Pode-se fingir estar doente se comportando de forma de induza ao estado débil de saúde. “[...] Cria-se a geração pelos de um real sem origem e sem realidade: hiperreal” (BAUDRILLARD, 1981, p. 76).

A criação deste hiperreal se dá pela ausência de um referente, o que torna possível a constituição de uma sociedade que tem como base algo denominado. Segundo Baudrillard, “já não se trata de imitações, nem de dobragem, nem mesmo de paródia. Mas de uma substituição no real dos signos do real”. Antes, as referências eram baseadas em algo concreto, elementos de um mundo tangível. Ao contrário da atual realidade. Aqui o signo não é uma extensão do real, mas, sim, posa em substituição a ele.

Para exemplo podemos citar atual e recente evolução presenciada no núcleo cinematográfico. A nova tecnologia apresenta no filme “Avatar” (CAMERON, 2009) ilustra de forma clara a quebra da barreira entre o físico e virtual. O ambiente do filme transcorre ao longo de dois cenários onde um deles existe e inexiste ao mesmo tempo (N’avi), projetado pelo imaginário de alguém. Porém, este mundo situação fora do alcance geográfico pode ser atravesso pelo mundo físico que pertencemos.
Avatar: hiperrealidade e sedução.
Pandora, um mundo mais real que o mundo real.
A transferência para o habitat dos N’avis é possível através meios tecnológicos quais te possibilitam superar eventuais limitações físicas. Os simulacros são experiências, formas, códigos, digitalidades e objetos sem referência que se apresentam mais reais do que a própria realidade, ou seja, são “hiper-reais”. Conforme o autor “[...] a simulação já não é a simulação de um território, de um ser referencial, de uma substância. É a geração pelos modelos de um real sem origem nem realidade: hiper-real”. (BAUDRILLARD, 1991, p.08).

Assim, Baudrillard entendia nossa condição como a de uma ordem social na qual os simulacros e os sinais estão, de forma crescente, constituindo o mundo contemporâneo, de tal forma que qualquer distinção entre “real” e “irreal” torna-se impossível.

Portanto, vivemos em uma nova fase da história, em um novo mundo organizado em torno de simulacros e simulações, no qual somos alcançados, ininterruptamente pelo jogo de simulacros, o que transforma radicalmente nossas experiências de vida, destrói os sentidos e as significações, e esvazia completamente o conceito de realidade.

Sob este aspecto, Baudrillard (1991, p.45) destaca como força constitutiva por excelência do jogo de simulacros, os meios de comunicação. Ele enfatiza que “[..] temos que pensar nos media como se fossem, na órbita externa, uma espécie de código genético que comanda a mutação do real em hiper-real”.

Simulacro significa originalmente um objeto material que representa algo (como um ídolo que representa uma divindade, ou uma natureza morta pintada de uma bacia de frutas). No livro “Simulacros e Simulação”, Baudrillard discute a problemática relativa à morte do referente e consequentemente do que ele define como “real”.
Jean Baudrillard: 1929 - 2007
A simulação se dá na ausência da polaridade dialética. Este cenário é favorável a processos de manipulação da sociedade, não pela presença da passividade dos indivíduos envolvidos, mas pela indistinção entre os papéis – ativo e passivo. Caminha-se, nesse contexto, à implosão do sentido. A um processo em que a informação anula o próprio conteúdo das mensagens e novos modelos são criados, não mais a partir do real, mas para substituir a realidade.

Assim, tanto a comunicação como o social, funcionam em circuito fechado, como um logro – ao qual se liga a força de um mito. A crença, a fé na informação agarra-se a esta prova tautológica que o sistema dá de si próprio ao redobrar nos signos uma realidade impossível de encontrar.

Simula-se a comunicação e o sentido dela proveniente. Obviamente que dentro dessa perspectiva os meios deixam de produzir a socialização.

O simulacro, portanto, vale por si só como uma cópia sem modelo. Por exemplo, o desenho animado Betty Boop foi baseado cantora Helen Kane. Kane, no entanto, chegou à fama imitando Annette Hanshaw. Hanshaw e Kane terem caído em relativa obscuridade, enquanto Betty Boop continua sendo um ícone da língua.
Betty Boop: os humanos morrem e  
os signos são eternos?
A enciclopédia online Wikipedia em si pode ser vista como um grande experimento de campo em larga escala na propagação de simulacros. É notável que muitas páginas contem factóides sobre o significado das palavras no contexto fictício de filmes populares, vídeo e jogos de papéis, clichês normalmente derivados à imitação de outros, como ficções. Por exemplo, o filme de 1999, Matrix, explora a relação entre as pessoas e seus simulacros, e em mais um exemplo de auto-referência Neo, um dos personagens principais do filme, usa uma cavada cópia do Simulacro Jean Baudrillard e de simulação como um segredo armazenado.




Na medida específica para a ficção científica é o andróide que se destina especificamente para representar outra criatura (geralmente um ser humano). Muitas histórias que incluem partes Simulacro vários temas em comum:

• Simulacros são cópias sempre imperfeitas;

• Simulacros são distinguíveis do original, porque elas são baseadas em uma forma idealizada do que foi copiado;

• Há um desejo por parte do simulacro, quer ser mais parecido com o original (ou seja, Pinocchio), ou para substituir o original (ou seja, Doppelgangers)

No filme Blade Runner, andróides construídos na imitação dos seres humanos são banidos do planeta Terra, ainda retornam a Terra em busca de seu criador. Na esperança de ter seu pré-encerramento programado desfeito. Os andróides não são cópias de seres humanos reais - todos os quais, no filme, têm defeitos.
Blade Runner: o caçador de andróides (1982)
Direção: Ridley Scott
 Existem três ordens de simulacros:

(1) simulacros naturais, naturalistas: com a imagem, imitação e contrafação. Eles são harmoniosos, otimistas, e têm como objetivo a reconstituição, ou a instituição ideal, de uma natureza à imagem de Deus;

(2) simulacros produtivistas: com base na energia e força, materializada pela máquina e todo o sistema de produção. Seu objetivo é prometiano aplicação à escala mundial, a expansão contínua, liberação de energia indeterminado (o desejo é parte das utopias que pertencem a esta ordem de simulacros);

(3) simulacros de simulação: com base nas informações, o modelo, o jogo cibernético. Seu objetivo é a operacionalidade máxima, hiper-realidade, o controle total.

Não existe um real e não imaginário, exceto a certa distância. Atualmente, a partir de uma ordem de simulacros para o outro, estamos assistindo a redução e absorção dessa distância, dessa separação que permite um espaço ideal para a projeção ou crítico.

* Acadêmicos do 4º semestre de comunicação social - habilitação em Jornalismo da Universidade de Cuiabá (UNIC). Trabalho produzido na disciplina de teoria da comunicação II, ministrada pelo Professor Mestre Rafael Marques.

Um comentário:

  1. Nenhum comentário? Sem dúvidas, ausência fragrante para atestar a realidade do texto. Tão subversivo que deveria ser ensinado desde a pré escola, paralelo com estudo de "português".
    Percebam que Jean Baudrillard apenas esclareceu "o mesmo", por exemplo, que vivemos a milênios, vide toda a história do cristianismo - radicalmente ao contrário de Theodor Adorno e sua escola que fundaram o conceito do Esclarecimento - do homem que "assumiu" o papel de filho exclusivo de Deus e reuniu entre seus seguidores toda a miríade de caracteres possíveis; atores voluntários de uma real divina comédia - encenações essas que perduram eternamente como mais real impossível, ou seja, hiper realidade.
    O que torna tão óbvio a verdade desse anúncio:
    “É perigoso desmascarar as imagens já que elas dissimulam que não há nada por detrás delas”.

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